Depois de muito tempo sem escrever, vejo-me pronto a, mais uma vez, discutir a situação daqueles que, como eu, se encontram entre uma camiseta e outra. Meu armário tem me dado tanto trabalho... E por falar nisso, como é difícil para nós nos mantermos no armário, uma vez que nossos impulsos podem, muitas vezes falar mais forte do que gostaríamos, não?
Mantemo-nos sob a proteção do anonimato por nos preocuparmos em não fazer alarde de nossa condição sexual, não por medo, ou covardia, mas por mera opção de discrição. Não temos a necessidade de nos explicarmos para a sociedade como um todo, visto que as pessoas que nos são queridas nos conhecem por inteiro (e nisso inclui-se a sexualidade, bem como os sonhos, os anseios, medos e tudo o quê permeia nossas vidas). Nos vemos como pessoas normais - não que os de fora do armário não o sejam, mas estes fizeram a opção de explicitar sua condição sexual, motivo único que nos difere destes. E como pessoas normais, temos nossos desejos, dos mais variados, os quais não têm hora nem local para se manifestar. Diante disso, como controlar determinados impulsos naturais diante da situação de se estar no armário? Ok, alguém irá nos dizer " você apenas reprime tais impulsos em prol da sua "reputação". Parece fácil, não é? Talvez o seja para os que em sua vida profissional lidem com máquinas ou animais... mas para os que têm de lidar com gente, a situação é bem mais complexa.
Imagine as seguintes situações:
- Caminhando pela rua, repentinamente depara-se com um rapaz de ótimo porte físico, rosto atraente e aparentemente charmoso. A reação normal é querer segui-lo com os olhos ao vê-lo passar. O pescoço tende a se deslocar em direção a este, chegando a se virar quando este passa em direção oposta à nossa. Daí, vêm os seguintes pensamentos:
1. Se me virem olhando pro rapaz podem gritar "vead*!"
2. Se algum conhecido me vir olhando pro rapaz estou uma má situação!
3. Se o rapaz perceber e não gostar do olhar, ele pode querer tirar satisfações comigo a respeito da paquera, ou seja, briga a caminho (etc...).
O que fazer? Simplesmente evitar olhar com cobiça... mas há como disfarçar a admiração que a beleza alheia nos causa? Vale a pena tanto esforço pra não ser percebido enquanto homossexual? Para nós que queremos ou precisamos do armário, responder a essas questões é fundamental para que se decida em prosseguir ou não no armário, ou, até mesmo, para se encontrar mecanismos de sobrevivência no armário.
O exemplo dado foi um dos mais simples possível, embora seja também amplamente corriqueiro. Serve para ilustrar fatos cotidianos de todos nós, o que nos alerta a respeito de nosso posicionamento diante das pessoas com as quais convivemos. Uma vez que queremos manter nossa discrição, saber controlar certos impulsos é fundamental. Não digo que deixemos de sentir algo, mas, uma vez que não se trata apenas de questões sexuais, devemos sim estar atentos às coisas que nos podem por à prova, seja no ambiente de trabalho, com nossos amigos ou, até mesmo em casa, com nossas famílias. O negócio é levar uma bateria extra para a lanterna, porque há muito o que se esconder no armário.
sexta-feira, 19 de novembro de 2010
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