Pois é...
Depois de uma longa caminhada silenciosa, volto eu ao nosso bom e querido armário.
Neste momento, dispo-me de uma tentativa frustrada de relacionamento e, adivinhem por que o bendito não deu certo? Por causa do armário! Minha dor e minha delícia tem o mesmo nome! Por conta disso, retomo minhas atividades em escrita, a fim de retomar, ainda mais inflamado pelos últimos acontecimentos, a discussão do armário e de suas implicações.
Há, como já discutimos anteriormente, dois tipos mínimos de armário: aquele no qual se escondem os covardes, que, por medo de se assumirem para a sociedade, evitam pensar em sua própria realidade, escondendo-a de todos e, muitas vezes, de si mesmos; aquele no qual se hospedam pessoas que, por mera opção de discrição, não vêem a necessidade de expor sua sexualidade para a sociedade como um todo.
Enquanto eu me hospedo no segundo tipo de armário, meu ex-algoz é praticamente o construtor em massa do primeiro. E ao construí-lo, destruiu a possibilidade de ser verdadeiramente amado...
Conhecemo-nos num dos famosos guetos, nos quais se encontram tanto ícones da comunidade abertamente gay, quanto aqueles que, por falta de opção discreta para vivenciar sua (homo)sexualidade, acabam se aventurando e, eventualmente, expondo-se à crises de consciência. "O que eu fui fazer num lugar desses, meu pai..." "isso não é ambiente pra mim..."
A figura me seduziu com um caminhar que parecia me chamar pra dentro de si... Tanto que eu, acompanhado na boate, deixei meu acompanhante para ficar buscá-la. O beijo levou a um amasso, que levou à um hotel, que levou-nos à vontade de continuar vendo no que tudo iria dar.
Veio o primeiro encontro, o segundo, e dentre eles a descoberta que o nome e a idade do bendito eram falso. Era ele apenas 3 anos mais velho que eu, porém, considerando os loucos que podemos encontrar pelo caminho, até relevei a mentira auto-protetora.
O problema é que estas mentiras vieram acompanhadas de outras, como estado civil, profissão, endereço... Dormia eu com o inimigo e não sabia?
Veio, com a minha descoberta o desmascarar do homem da máscara de aço e do coração de ferro. Sua frieza em, mesmo diante das provas, seguir insultando minha inteligência e fingir não saber de quem aqueles documentos comprovando sua culpabilidade se tratavam, foi pungente. Acordava eu de um sonho que sonhara sozinho.
Curiosamente, ao encontrá-lo por acaso de volta a um desses guetos (por coincidência, o mesmo do primeiro encontro) meus olhos se abriram ao vê-lo e perceber o que todos os meus amigos me disseram logo após saberem do fim do relacionamento: "sinceramente, não sei o que você fazia com ele...".
Sua desculpa para tamanha mentira era o medo de ser descoberto por sua família e perder o seu respeito, bem como deixar de fazer parte de seu seio. A questão até explica, mas não justifica. Ainda mais diante de alguém que lhe abrira não só as páginas de seu livro, mas também lhe permitira escrever junto a si a história caso desejasse...
Contudo, como diz o ditado, não há bem que sempre dure, nem mal que nunca acabe (ou coisa assim. Depois de algumas caminhadas silenciosas, a fim de não acordar os demais, volto eu à meu ritmo normal, calçando os sapatos de corrida, ouvindo uma boa música, e de volta à maratona. E quem chegar por último, é porque não estava bem alongado (porque essa história de que padre não tem mulher é algo para ser discutido pelo Vaticano!)!
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Oi .. Ja sou seu seguidor!
ResponderExcluirBjo*!
Belo texto querido, tb to seguindo seu blog.
ResponderExcluir\0/
Muitas vezes, a decisão de permanecer no armário, não tem nada a ver com a covardia. É, como Você disse, por mera opção de discrição. Em certos casos, a saída do armário, significaria o fim de uma vida social, familiar e profissional. Esta é a situação de quem "se descobriu" (admitiu, finalmente, a sua homossexualidade) no meio do caminho de uma vida estruturada. Até então, não houve hipocrisia. Agora, porém, as coisas tornaram-se muito mais delicadas (para não dizer, complicadas). Depois de uma batalha interior de autoaceitação, vem a necessidade de reinventar a vida toda. Algo que não está livre de tropeços e incertezas. Às vezes, a discrição confunde-se com a mentira (e, como sabemos, uma mentira "puxa" outra). Não estou justificando o homem que lhe causou sofrimento, mas - de certa maneira - identificei-me com aquela situação.
ResponderExcluirÉ ótimo que existe alguém que escreve sobre isso. Continue!
Abraço!