Ao organizar meu armário percebi que precisava escolher bem o local onde poria minhas meias e meus sapatos. Como sou bem organizado, organizo ambos por cor e por estilo, bem como pela minha preferência - os sapatos e as meias que uso estão sempre a mão. Isto me remeteu a outra organização, muitas vezes difícil pra quem está no armário: onde ir e, principalmente, onde NÃO ir.
Parece-nos claro que, uma vez no armário, a pessoa está destinada a viver distante de qualquer lugar que represente risco à sua imagem, como um super herói que protege ao máximo a sua identidade secreta. Contudo, constrói-se um paradoxo. Em sendo homossexual, como e onde se vai encontrar um outro rapaz a fim de vivenciar qualquer experiência entre dois homens?
A internet parece ser a primeira opção, uma vez que se pode omitir ao máximo a identidade, ficando, assim, um pouco mais seguro. Omite-se tanta coisa que nem se sabe ao certo com quem se está falando, mas isso é papo pra um outro dia... A questão aqui é que na internet também não se está tão seguro assim como se poderia pensar.
Daí advém outra questão: ir ou não a ambientes gays? Muitos têm a curiosidade a respeito de como são estes locais e de como se comportam os homens em total liberdade de expressão de sua sexualidade. Contudo, corre-se o risco de descobrir que aquele seu amigo da faculdade que sai com uma amiga sua é gay, ou que o seu vizinho, aquele mesmo, o barrigudinho calvo que é pai da sua ex-namorada do jardim de infância, dança Bad Romance sem camisa no queijo da boate... Mas aí vem o pior pensamento: "eu posso até vê-los, mas e se algum deles me vir???"
Parece que este texto serviu mais para suscitar questões que ajudar a esclarece-las. Mas elucidar uma questão é algo que surge a partir de seu questionamento. E, em se tratando do humano, jamais haverá uma resposta que sirva para todas as pessoas. Cada um de nós tem seus armários, suas meias e seus sapatos. Nem sempre calçamos o mesmo número e, mesmo que calcemos, as vezes os sapatos dos quais gostamos não agradam aos nossos amigos e vice-versa.
Cabe a cada um de nós escolher se se arrisca ou não nos ambientes gays, sobrevive ou não às infinitas buscas na internet ou tenta omitir dentro de si o desejo de estar com outro homem. Seja qual escolha fizermos, devemos fazê-la conscientes de seus respectivos resultados.
Estar no armário e buscar onde ir realmente nos assemelha a situação que vive o super herói. A proteção de sua identidade o obriga a vestir-se com um uniforme e a usar uma máscara. E aparecer na boate faria com que minha máscara caísse... Mas daí advém outra questão. A palavra 'Personalidade' por sua origem está muito relacionada com a aparência externa da pessoa. Ela descreve e determina características próprias a cada um e que significa exatamente isso, "máscara". (a palavra vêm das máscaras gregas do teatro...) Então ficamos entre viver a nossa própria persona ou criar uma outra, que nos permite viver bem em sociedade e, de vez em quando, nos transformarmos no super herói que nos salva de nós mesmos e da hipocrisia da sociedade que nos cerca. E assim seguimos organizando em nossos armários, nossas meias, sapatos, vendo que meia combina com o sapato escolhido para um determinado compromisso e, além disso, evitando ao máximo que calos se alojem em nossos pés.
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